sábado, 29 de novembro de 2008

Sábado de boa música em SSA e Cruz das Almas

Neste sábado, 29 de novembro, quem aprecia boa música terá duas boas opções, em Salvador e Cruz das Almas, encerrando o mês da Conscincia Negra.

Em Salvador, Negra Li e D`Black fazem show na Senzala do Barro Preto - Sede do Ilê Aiyê, a partir das 20 horas, no grande “Espetáculo da Música Preta - II Afro em Cena”, fechando as celebrações do mês da Consciência Negra na capital baiana. O evento contara ainda com a participação do "mais belo dos belos", o Ilê Aiyê, discotecagem com DJ Bandido e DJ Leandro, do samba do grupo Samba de Cozinha, do Reggae da banda Mosiah e com o Rap do 4Preto.



Em Cruz das Almas, na Casa da Cultura, será a vez do hip hop dos grupos Filosofia Consciente do Rap, CLÃ-B.A. e Neto DO RAP e de um bate-papo consciente sobre a Semana da Consciência Negra, a partir das 20 horas com entrada franca.



Os dois eventos tem como objetivo contribuir para o enriquecimento cultural de matriz africana, criando oportunidades aos profissionais da comunidade negra exporem sua arte, suas imagens e expressões.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Observatório da Imprensa mantém acordo Brasil-Vaticano em pauta

Reproduzo a seguir artigo de Lilia Diniz, publicado no site do programa Observatório da Imprensa, que recebi por email.
O tema é o acordo recém-assinado pelo presidente Lula com o Vaticano, que implicará na obrigatóriedade do ensino religioso nas escolas, contrariando a Constituição (no Artigo 19, que proíbe alianças entre o governo e cultos religiosos ou igrejas) e a lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB.
O mais grave em tudo isso é o quase total silêncio da mídia sobre assunto tão importante, que reforça os privilégios que o Estado brasileiro concede à Igreja Católica, em detrimento das religiões menos poderosas.
Como educadora, sempre me posicionei contrária ao ensino religioso. O Brasil é um país laico e religião é assunto de foro íntimo que, como tal, deve ser tratado pelas famílias e não pelo Estado. Partilho assim, das posições da coordenadora da área de Filosofia e Educação da Pós-Graduação em Educação da USP Roseli Fischmann, uma das participante do debate no programa da TVE Brasil.
Vejam mais no site do Observatório:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=513JDB008

O programa Observatório da Imprensa n. 487, transmitido ao vivo no dia 25/11, e reprisado hoje, 27, de madrugada, foi sobre a assinatura do acordo Vaticano-Governo Lula. O texto introdutório apresentado pelo jornalista Alberto Dines, qualificou como "barriga coletiva" (quando o conjunto de veículos esconde uma informação) ou autocensura da imprensa, a ausência de análises sobre o conteúdo desse acordo, que "infringe o espírito e a letra da carta magna".
Numa demonstração de coragem, o programa contribuiu para manter aceso o diálogo, quando o ambiente é de pesado e sintomático silêncio.
O programa foi introduzido por um vídeo que continha alguns dos aspectos apresentados aqui no blog, como a experiência nefasta do Rio de Janeiro com a lei de ensino religioso nas escolas, sancionada por Rosinha Garotinho, e a existência de acordos similares, como o que foi assinado em 2004, entre o Vaticano e o governo português.
Um dos debatedores foi o advogado da CNBB, Hugo Sarubbi Cysneiros, que defendeu o acordo minimizando as críticas ao caráter sigiloso, e ao aspecto de que o documento formaliza privilégios. Ele buscou no marco legal elementos para justificar que o Brasil é um estado laico, mas não pagão. Recorreu à citação de deus na introdução do texto constitucional, à menção ao ensino religioso -mesmo que não obrigatório- nas escolas, reafirmada na lei de Diretrizes e Bases, e à figura do casamento religioso presente no Código Civil. Cysneiros atribui qualquer diferencial no tratamento dado pelo Estado, comparativamente ao recebido por outras religiões, ao 'detalhe' de que o Vaticano tem status de estado-nação, o que lhe dá competência para assinar tratados dessa natureza. Quereria ele dizer com isto que, a pretender o mesmo tratamento, que busquem as outras religiões o mesmo status?
Também como debatedora, estava a coordenadora da área de Filosofia e Educação da Pós-Graduação em Educação da USP Roseli Fischmann, e o pastor da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, Guilhermino Silva da Cunha. Jornalistas de diversos veículos foram convidados, mas não aceitaram participar, como informou o âncora.
Fischmann apresentou sua visão de como –no alegado ambiente de violência em que vivemos- as escolas devem ensinar valores de respeito ao próximo e de cidadania sem recorrer a uma matriz religiosa. Ao contrário, para ela, impor uma matriz sobre outras tem um caráter excludente e gera ainda mais tensões na sociedade.
É preciso lembrar que cerca de 30%, ou mais, da população brasileira nada tem a ver com a Igreja católica, e que entre os outros 70% que se dizem católicos/as, muitos/as não seguem os preceitos e se posicionam contrariamente a sua hierarquia, em vários temas.
O pastor Silva da Cunha apontou criticamente os privilégios que beneficiam a Igreja católica, mas defendeu as concessões e/ou compra de espaços em rádio e televisão, de que evangélicos, como sua igreja, se beneficiam.
Para Dines os privilégios concedidos pelo estado brasileiro estão dos dois lados, seja sob a forma do acordo, como dessas concessões:
"… no lugar de seguir a constituição e estabelecer completa separação entre estado e religião, o Brasil inventou uma forma original de administrar o conflito religioso, oferecendo vantagens às confissões religiosas mais poderosas".
Uma evidência se anuncia: ou a sociedade se mobiliza para debater e expressar publicamente sua crítica sobre a inconstitucionalidade desse acordo, ponto por ponto, ou o processo no Congresso Nacional circulará em solo acolhedor para um desfecho final rumo à ratificação do retrocesso, possivelmente em meio ao confortável silêncio da mídia e do governo, quanto às reais questões em jogo nesse histórico episódio.
Síntese do programa pode ser lida no artigo Mídia se cala sobre o acordo
do governo com a Santa Sé, de Lilia Diniz, no portal do Observatório da Imprensa.

Igualdade de gênero: Das palavras aos fatos

Em artigo publicado na revista eletrônica Envolverde, Inês Alberdi, diretora-executiva do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), analisa o atual modelo de desenvolvimento econômico, à luz das desigualdades de gênero.

Alberdi afirma que as atuais crises globais – de alimentos, combustíveis e financeiras – deixaram claro que o modelo do desenvolvimento convencional já não é mais viável. A promoção da liberalização do mercado e da austeridade fiscal como instrumentos para estimular o crescimento econômico deve ser revista. Os acordos internacionais, começando pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, apóiam políticas que vão além do mero crescimento econômico, pois têm como meta um desenvolvimento justo e sustentável. O Consenso de Monterrey, por exemplo, diz que o financiamento de um desenvolvimento simples e centrado nas pessoas é essencial para responder aos desafios da globalização. Nesse contexto, destaca-se que o investimento na igualdade entre os gêneros tem um efeito multiplicador na produtividade e que o aumento das opções econômicas das mulheres é fundamental para alcançar os ODM.

Entre 29 de novembro e 2 de setembro acontecerá em Doha (Qatar) uma conferência que aprovará o documento final sobre o financiamento do desenvolvimento. O rascunho desse documento reconhece estes vínculos e identifica a igualdade de gênero como um desafio-chave para o desenvolvimento, junto com os da mudança climática e as crises de alimentos e energia.

No artigo a autora destaca ser "de vital importância que o documento final de Doha contenha referências aos vínculos estruturais entre as políticas macroeconômicas e a igualdade de gênero. Os laços entre a igualdade de gênero e o desenvolvimento deveriam também ser apontados dentro das sessões específicas da agenda do financiamento para o desenvolvimento." Tudo isto para ampliar as oportunidades para as mulheres e para reduzir os riscos aos quais elas estão frequentemente expostas, incluindo a perda do trabalho e de renda e o acesso limitado aos bens e serviços públicos. Entre as conseqüências negativas das políticas de ajuste fiscal tem particular destaque a paralisação das oportunidades de emprego e a redução de gastos em serviços públicos e em proteção social. Essas medidas obrigam as mulheres a assumirem responsabilidades adicionais quanto à assistência de suas famílias, o que limita suas opções na obtenção de empregos e em atividades empresariais.

Outros destaques são dados à ampliação das opções das mulheres no mercado de trabalho e melhora do seu acesso aos bens financeiros e produtivos; dos esforços para sustentar o grande número de mulheres que desempenham trabalhos informais e melhora das opções para os pequenos agricultores, cuja maioria deles em muitos países é de mulheres.

Por fim, destaque para a fala do secretário-geral da ONU, para quem “existe uma ampla opinião sobre a necessidade de melhor compreensão do papel da mulher no desenvolvimento, indo mais além de suas funções como cuidadora de crianças, deficientes ou doentes e como trabalhadora. As políticas macroeconômicas deveriam ser mais coerentes com outras políticas para conseguir a igualdade de gênero”.

Artigo completo: http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=54190&edt=1

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Homens Unidos pelo fim da Violência contra as Mulheres

O combate às desigualdades de gênero só se tornará realidade quando se converter em uma luta de mulheres e homens unidos.
Apoie essa causa assinando esse compromisso público de contribuir pela implementação integral da Lei Maria da Penha e pela efetivação de políticas públicas que visam o fim de qualquer forma de violência contra as mulheres.

Veja mais informações e o abaixo-assinado no link abaixo.
http://www.homenspelofimdaviolencia.com.br/

domingo, 23 de novembro de 2008

Quarto de despejo – diário de uma favelada. Um pouco mais sobre Carolina Maria de Jesus



Quarto de despejo foi lançado pela Livraria Francisco Alves em agosto de 1960 e editado oito vezes no mesmo ano; mais de 70 mil exemplares foram vendidos na época. Para se ter uma idéia do sucesso, para uma tiragem então ser considerada bem-sucedida, era preciso alcançar a margem de, aproximadamente, quatro mil exemplares.
Nos cinco anos seguintes, Quarto de despejo foi traduzido para 14 idiomas e alcançou mais de 40 países, como Dinamarca, Holanda, Argentina, França, Alemanha, Suécia, Itália, Tchecoslováquia, Romênia, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia, Japão, Polônia, Hungria e Cuba.



Síntese da obra

Quarto de despejo é um relato de fatos verídicos vivenciados ou presenciados pela autora, que faz questão de registrá-los quase que diariamente. Em seu diário, Carolina Maria de Jesus descreve a favela do Canindé, as pessoas e o tipo de vida que levam. Relata as brigas constantes entre marido, mulher e vizinhos, a fome, as dificuldades para se obter comida, as doenças a que estão sujeitos os moradores da favela, seus hábitos e costumes, as mortes, o suicídio, a presença constante da miséria de uma sociedade marginalizada e esquecida pelos governantes.

“15 de julho de 1955. Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela.”
Assim tem início o diário de Carolina, que terminará em 1º de janeiro de 1960:
“1.º de janeiro de 1960. Levantei as 5 horas e fui carregar água.”

Ao longo desses anos, a autora registra a vida na favela, a sua luta diária contra a fome, o esforço para criar com dignidade os filhos José Carlos, João e Vera Eunice. A fome é uma constante ao longo da obra:
"Como é horrível ver um filho comer e perguntar: Tem mais? Esta palavra tem mais fica oscilando do cérebro de uma mãe que olha a panela e não tem mais. E a pior coisa para uma mãe é ouvir esta sinfonia: - Mamãe eu quero pão! Mamãe, eu estou com fome! Eu estou triste porque não tenho nada para comer.”

Quando consegue algum alimento, a narradora reflete sobre sua condição de pessoa expulsa do mundo humano:
“Quando eu levava feijão pensava: hoje eu estou parecendo gente bem, vou cozinhar feijão. Parece até um sonho!”

A miséria que presencia é tão chocante que Carolina acha que alguém poderia não acreditar no que conta:
“.... Há existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá... isto é mentira! Mas, as misérias são reais.”

Com grande senso crítico, a autora destaca as visitas do padre à favela:
“De manhã o padre veio dizer missa. Ontem ele veio com o carro capela e disse aos favelados que eles precisam ter filhos. Penso: porque há de ser o pobre quem há de ter filhos ¬ se filhos de pobre tem que ser operário? (...) Para o senhor vigário, os filhos de pobre criam só com pão. Não vestem e não calçam.”

O contraste entre a favela e a cidade é percebido com acuidade e senso crítico por Carolina:
“Quando eu vou na cidade tenho a impressão de que estou no paraíso. Acho sublime ver aquelas mulheres e crianças tão bem vestidas. Tão diferentes da favela. As casas com seus vasos de flores e cores variadas.Aquelas paisagens há de encantar os visitantes de São Paulo, que ignoram que a cidade mais afamada da América do Sul está enferma. Com as suas ulceras. As favelas.”

Fatos corriqueiros como brigas entre marido e mulher, entre as mulheres e os bêbados, a presença da Rádio Patrulha, mortes por intoxicação com alimentos putrefatos são narrados com detalhes por Carolina:
“Eu já estou tão habituada a ver brigas que já não impressiono. Despertei com um bate-fundo perto da janela. Era a Ida e a Amália.A briga começou lá na Leila. Elas não respeitam nem a extinta. O Joaquim interviu pedindo para respeitar o corpo. Elas foram brigar na rua.”

Ao olhar atento da narradora nada escapa:
“.... Nas favelas, as jovens de 15 anos permanecem até a gora que elas querem. Mescla-se com as meretrizes, contam suas aventuras [...] Há os que trabalham. E há os que levam a vida a torto e a direito.As pessoas de mais idade trabalham, os jovens é que renegam o trabalho. Tem as mães, que catam frutas e legumes nas feiras. Tem as igrejas que dá pão.”

Sempre em atrito com os vizinhos por causa dos filhos, Carolina diz:
“ Os meus filhos estão defendendo-me. Vocês são incultas, não pode compreender. Vou escrever um livro referente a favela. Hei de citar tudo que aqui se passa. E tudo que vocês me fazem. Eu quero escrever o livro, e vocês com estas cenas desagradáveis me fornece os argumentos.”

Carolina demonstra ser uma pessoa exatamente atualizada em relação ao que se passa na vida política do país, o que se comprova pelas constantes referências aos políticos em destaque na época, como Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Adhemar de Barros e Juscelino Kubitschek.A exploração da boa-fé do povo pelos políticos na época de eleições, as visitas dos candidatos à favela, os pequenos agrados e as promessas não cumpridas são registradas pela narradora de forma crítica e consciente.
“.... Quando um político diz nos seus discursos que está ao lado do povo, que visa incluir-se na política para melhorar as nossas condições de vida pedindo o nosso voto prometendo congelar os preços, já está ciente
que abordando este grave problema ele vence nas urnas. Depois divorcia-se do povo. Olho o povo com os olhos semicerrados. Com um orgulho que fere a nossa sensibilidade.”


Sobre sua obra, Carolina afirma:
"Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade."

Outros trechos

22 de julho de 1955

... Eu gosto de ficar dentro de casa, com as portas fechadas. Não gosto de ficar nas esquinas conversando. Gosto de ficar sozinha e lendo. Ou escrevendo! Virei na rua Frei Antonio Galvão. Quase não tinha papel.(...) Enchi dois sacos na rua Alfredo Maia. Levei um até ao ponto e depois voltei para levar outro. Percorri outras ruas. Conversei um pouco com o senhor João Pedro. Fui na casa de uma preta levar umas latas que ela tinha pedido. Latas grandes para plantar flores. Fiquei conhecendo uma pretinha muito limpinha que falava muito bem. Disse ser costureira, mas não gostava da profissõ. E que admirava-me. Catar papel e cantar.
Eu sou muito alegre. Todas as manhãs eu canto. Sou como as aves, que cantam apenas ao amanhecer. De manhã eu estou sempre alegre. A primeira coisa que faço é abrir a janela e contemplar o espaço.

7 de junho de 1958

Os meninos tomaram café e foram a aula. Eles estão alegres porque hoje teve café. Só quem passa fome é que dá valor a comida.
Eu e Vera fomos catar papel. Passei no Frigorifico para pegar lingüiça. Contei 9 mulheres na fila. Eu tenho mania de observar tudo, contar tudo, marcar os fatos.
Encontrei muito papel nas ruas. Ganhei 20 cruzeiros. Fui no bar tomar uma média. Uma para mim e outra para a Vera. Gastei 11 cruzeiros. Fiquei catando papel até as 11 e meia. Ganhei 50 cruzeiros.
... Quando eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil porque eu lia a Historia do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. Só lia os nomes masculinos como defensor da patria. Então eu dizia para a minha mãe:
- Porque a senhora não faz eu virar homem?
Ela dizia:
- Se você passar por debaixo do arco-íris você vira homem.
Quando o arco-iris surgia eu ia correndo na sua direção. Mas o arco-iris estava sempre distanciando. Igual os politicos distantes do povo. Eu cançava e sentava. Depois começava a chorar. Mas o povo não deve cançar. Não deve chorar. Deve lutar para melhorar o Brasil para os nossos filhos não sofrer o que estamos sofrendo. Eu voltava e dizia para a mamãe:
- O arco-iris foge de mim.
... Nós somos pobres, viemos para as margens do rio. As margens do rio são os lugares do lixo e dos marginais. Gente da favela é considerado marginais. Não mais se vê os corvos voando as margens do rio, perto dos lixos. Os homens desempregados substituiram os corvos. (...)

9 de junho de 1958

... Eu já estava deitada quando ouvi as vozes das crianças anunciando que estavam passando cinema na rua. Não acreditei no que ouvia. Resolvi ir ver. Era a Secretaria da Saude. Veio passar um filme para os favelados ver como é que o caramujo transmite a doença anêmica. Para não usar as aguas do rio. Que as larvas desenvolve-se nas aguas(...) Até a agua... que em vez de nos auxiliar, nos contamina. Nem o ar que respiramos, não é puro, porque jogam lixo aqui na favela.
Mandaram os favelados fazer mictorios.


11 de junho de 1958


... Já faz seis meses que eu não pago a agua. 25 cruzeiros por mês. E por falar na agua, o que eu não gosto e tenho pavor é de ir buscar agua. Quando as mulheres aglomeram na torneira, enquanto esperam a sua vez para encher a lata vai falando de tudo e de todos. (...) Fiz o café e fui carregar agua. Olhei o céu, a estrela Dalva já estva no céu. Como é horrível pisar na lama. As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginarios (...).



JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo – diário de uma favelada.
São Paulo: Ática, 1993. Série Sinal Aberto.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

20 de novebro - nossa homenagem às mulheres negras

No 20 de novembro, Dia Nacional da Consciencia Negra, resolvemos homenagear algumas mulheres negras que se destacaram por assumir posições e atitudes de vanguarda para as épocas em que viveram.



Luiza Mahin: mulher guerreira



Esta africana guerreira teve importante papel na Revolta dos Malês. Pertencente à etnia jeje, alguns afirmam que ela foi transportada para o Brasil, como escrava; outros se referem a ela como sendo natural da Bahia e tendo nascido livre por volta de 1812. Em 1830 deu a luz a um filho, Luis Gama, que mais tarde se tornaria poeta e abolicionista e escreveria as seguintes palavras sobre sua mãe: ‘‘Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã’’. Luiza Mahin foi uma mulher inteligente e rebelde. Sua casa tornou-se quartel general das principais revoltas negras que ocorreram em Salvador em meados do século XIX, dentre elas a chamada Grande Insurreição, de 1835. Luiza conseguiu escapar da violenta repressão desencadeada pelo Governo da Província e partiu para o Rio de Janeiro, onde também parece ter participado de outras rebeliões negras, sendo por isso presa e, possivelmente, deportada para a África.


Antonieta de Barros - primeira deputada negra




Ao longo de sua vida, Antonieta atuou como professora, jornalista e escritora. Como tal, destacou-se, entre outros aspectos, pela coragem de expressar suas idéias dentro de um contexto histórico que não permitia às mulheres a livre expressão. Antonieta de Barros notabilizou-se por ter sido a primeira deputada estadual negra do país e primeira deputada mulher do estado de Santa Catarina. Eleita em 1934 pelo Partido Liberal Catarinense, foi constituinte em 1935. Atuou na assembléia legislativa catarinense até 1937, quando teve início a ditadura do Estado Novo. Com o fim do regime ditatorial, ela se candidatou pelo Partido Social Democrático e foi eleita novamente em 1947, desta vez como suplente.

Carolina Maria - cotidiano de mulher favelada



Carolina Maria de Jesus nasceu no interior de Minas Gerais, em uma família extremamente pobre de sete irmãos e tendo que trabalhar cedo para ajudar no sustento da casa. Por isso, estudou apenas até o segundo ano primário.

Nos anos 30, mudou-se para São Paulo e foi morar na favela do Canindé ganhando seu sustento e de seus três filhos como catadora de papel. No meio do lixo, Carolina encontrou uma caderneta, onde passou a registrar seu cotidiano de favelada, em forma de diário, dando inicio a uma literatura de denuncia sócio-política de um contexto hegemônico e excludente.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

ZÉ DE ROCHA NA 9ª BIENAL DO RECÔNCAVO E NA FUNGA


O artista plástico cruzalmense, ou pintor, como ele mesmo declarou em seu blog, Zé de Rocha foi o grande vencedor da 9ª Bienal do Recôncavo.
Os trabalhos expostos na Bienal já são conhecidos do público apreciador de arte em Cruz das Almas desde o mês de julho, quando foram expostos na Casa da Cultura Galeno d'Avelírio. A gravura "Ensaio para a Bala Perdida", aborda a violência usando uma estética contemporânea e lhe rendeu como prêmio um curso de três meses na Europa, em sua área de atuação.


Matéria publicada no jornal A Tarde, no dia 8 de novembro, reproduziu declaração de Juarez Paraíso, membro da comissão julgadora, onde o artista observou que Zé de Rocha conseguiu, em sua obra, abordar a violência se colocando como um personagem de HQ. "Ele é um artista muito denso e talentoso e seu trabalho conseguiu transformar a fotografia numa linguagem gráfica mais contundente", avaliou Juarez.

Veja mais sobre Zé de Rocha em:
http://www.atarde.com.br/cultura/noticia.jsf?id=1004123#
http://galenodavelirio.blogspot.com/
http://www.zederocha.blogspot.com/

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Florbela Espanca



Sonho Morto
Nosso sonho morreu. Devagarinho,
Rezemos uma prece doce e triste
Por alma desse sonho! Vá… baixinho…
Por esse sonho, amor, que não existe!

Vamos encher-lhe o seu caixão dolente
De roxas violetas; triste cor!
Triste como ele, nascido ao sol poente,
O nosso sonho… ai!… reza baixo… amor…

Foste tu que o mataste! E foi sorrindo,
Foi sorrindo e cantando alegremente,
Que tu mataste o nosso sonho lindo!

Nosso sonho morreu… Reza mansinho…
Ai, talvez que rezando, docemente,
O nosso sonho acorde… mais baixinho…

Confissão
Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
……………………………………………………..
Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…



Escuta...
Escuta, amor, escuta a voz que ao teu ouvido
Te canta uma canção na rua em que morei,
Essa soturna voz há de contar-te, amigo
Por essa rua minha os sonhos que sonhei!

Fala d’amor a voz em tom enternecido,
Escuta-a com bondade. O muito que te amei
Anda pairando aí em sonho comovido
A envolver-te em oiro!… Assim s’envolve um rei!

Num nimbo de saudade e doce como a asa
Recorta-se no céu a minha humilde casa
Onde ficou minh’alma assim como penada

A arrastar grilhões como um fantasma triste.
É dela a voz que fala, é dela a voz que existe
Na rua em que morei… Anda crucificada!

Desalento
Às vezes oiço rir, é ’ma agonia
Queima-me a alma como estranha brasa
Tenho ódio à luz e tenho raiva ao dia
Que me põe n’alma o fogo que m’abrasa!

Tenho sede d’amar a humanidade…
Eu ando embriagada… entontecida…
O roxo de maus lábios é saudade
Duns beijos que me deram n’outra vida!

Ei não gosto do Sol, eu tenho medo
Que me vejam nos olhos o segredo
Que só saber chorar, de ser assim…

Gosto da noite, imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!

Errante
Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura…

Meu coração não chega lá decerto…
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto…

Eu tecerei uns sonhos irreais…
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Graduação em Gênero e Diversidades

Gênero e Diversidades é nova opção de graduação da UFBA

Temática que antes era restrita aos cursos de pós-graduação, se insere entre as ofertas para ingresso na universidade através de vestibular. Vagas estarão disponíveis no próximo concurso de verão

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) deu um passo à frente ao ampliar as reflexões sobre mulheres, gênero e feminismo para a graduação. No próximo concurso vestibular, já estarão disponíveis vagas para o primeiro curso de graduação Gênero e Diversidades do Brasil.

Oferecendo as modalidades licenciatura e bacharelado, o curso visa a formar profissionais e educadores aptos a tratar das questões relacionadas à perspectiva de gênero e outras diversidades no âmbito das políticas públicas
e do ensino. Além dessa graduação, a UFBA também aprovou, no contexto dos bacharelados interdisciplinares de Humanidades, a área de concentração em Estudos de Gênero.

Leia Mais: http://www.patriciagalvao.org.br/

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Campanha 16 dias de ativismo começa 17 de novembro


16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres

A Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres tem sido utilizada como importante estratégia de pessoas, grupos e organizações para promover a consciência em âmbito local, regional, nacional e internacional sobre a violência contra as mulheres como uma violação aos direitos humanos; criar instrumentos de persuasão para que os governos implementem políticas públicas voltadas para a erradicação da violência contra as mulheres e demonstrar solidariedade às mulheres organizadas em um trabalho de promoção à não-violência em todo o mundo.

Promovida no Brasil pela AGENDE Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento em parceria com Redes e Articulações Nacionais de Mulheres e de Direitos Humanos, Congresso Nacional, órgãos governamentais, empresas estatais e privadas, e agências das Nações Unidas, a campanha é uma iniciativa do Centro para a Liderança Global das Mulheres (Center for Womens Global Leadership) e é realizada internacionalmente desde 1991 em aproximadamente 130 países.

O dia 25 de novembro - Dia Internacional da Não-Violência contra as Mulheres - marca o início da campanha e 10 de dezembro - Dia Internacional dos Direito Humanos - seu encerramento. Integram ainda a campanha o 01 de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids e o dia 06 de dezembro, data do massacre de mulheres de Montreal, que marca a Campanha Mundial do Laço Branco congregando homens pelo fim da violência contra as mulheres. No Brasil, os eventos começam sempre antes, para incluir o dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra.

No Brasil o trabalho se concentra no fortalecimento da auto-estima da mulher e seu empoderamento como condições para sair das situações de violência, adotando como slogan "Uma vida sem violência é um direito das mulheres!". Em âmbito mundial, a campanha tem como lema: "Pela saúde das mulheres, pela saúde do mundo, basta de violência!". Mais informações e dados sobre as edições já realizadas no Brasil no site: http://www.agende.org.br/16dias/

Eventos e ações

Realizar ações e eventos no período da Campanha 16 Dias de Ativismo é fundamental para divulgar os benefícios da Lei Maria da Penha e convocar a sociedade a comprometer-se com a erradicação da violência contra as mulheres É importante elaborar uma programação interativa, seja dentro da empresa ou instituição e nas ações e eventos de mobilização social.

Usar a lei é um compromisso de toda/o cidadã/ao brasileira/o. Incentivar a população a “meter a colher” em brigas de casal é um dever de cada um de nós que acredita que a Lei Maria da Penha vale à pena.

A Campanha 16 Dias de Ativismo será lançada oficialmente na semana de 17 a 21 de novembro, no Congresso Nacional, em Brasília. Para fortalecer a mobilização em todo o País, a sugestão da coordenação nacional da Campanha é que estados, municípios, redes e organizações de mulheres e dos direitos humanos também façam o lançamento na mesma semana.

As datas de mobilização já estão definidas:

23 de novembro - Dia de Mobilização Nacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

25 de novembro - Dia Internacional da Não-Violência contra as Mulheres, data da abertura da campanha mundial. A proposta é marcar a data com um ato político realizando sessões solenes, simultaneamente, no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores.

01 de dezembro - a proposta é promover a inclusão da temática da Feminização da Aids nos eventos doDia Mundial de Combate à Aids.

06 de dezembro - vamos ampliar a ação realizada no ano passado no Maracanã, onde no dia 25/11, Dia Internacional da Não-Violência contra as Mulheres, no jogo Flamengo X Atlético Paranaense, no Rio de Janeiro, às 18h, o Flamulher, torcida feminina do Flamengo, entrou em campo segurando uma faixa, de 50m, alusiva à Campanha 16 Dias de Ativismo. O placar eletrônico também mostrou frases sobre a Campanha.

Em 2008, a idéia é levar a ação nos estádios de futebol de diversas cidades do País, no 06/11, Dia Nacional de Luta dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres – Laço Branco. A ação deve ser articulada entre as Secretarias Estaduais de Políticas para as Mulheres e as Secretarias Estaduais de Esportes. A coordenação da Campanha 16Dias de Ativismo produzirá a arte das faixas e frases para o placar.

10 de dezembro - promover a inclusão da violência contra as mulheres como uma violação dos direitos humanos nos eventos que neste ano marca, também, os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Envie sugestões para a campanha em Cruz das Almas para este blog.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Vamos propor emendas ao Projeto de Lei Orçamentária de 2009

Feministas querem mais verba orçamentária para programas destinados à mulher

Por Redação da Revista Fórum

O fortalecimento de ações voltadas para o combate à violência doméstica, para a saúde da população negra e o 2º Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) estão entre as principais reivindicações contidas no documento que o Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) entregou à bancada feminina da Câmara. O documento contém sugestões de emendas ao Projeto de Lei Orçamentária Anual 2009.

Segundo a autora do estudo, a economista Gilda Cabral, 36 programas que integram o Orçamento Mulher na Lei Orçamentária 2009 tiveram verbas reduzidas. “É um elenco de ações que o governo diz que é ótimo, faz campanha na televisão, mas na hora do Orçamento não tem dinheiro”, conta.

“Você chega no fim do ano e o governo não executou nem 60% do orçamento autorizado. Não dá para em um mês implantar um bem estar tão importante da população”, explica Gilda.

Para ela, o orçamento não é só coisa de economista. A população pode e deve participar ativamente

“Até o dia 14 deste mês [é possível participar] entrando no site da Câmara dos Deputados e propondo uma emenda. Não é possível saber se o recurso vai sair, mas pelo menos você como cidadão vai poder participar e acompanhar os gastos do governo”.

http://www.envolverde.com.br/?materia=53454
(Envolverde/Revista Fórum)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Mulheres: Compromisso da ONU fica no papel




Por Nergui Manalsuren, da IPS

Nações Unidas, 31/10/2008 – Organizações de direitos humanos pediram urgência à ONU para implementar plenamente uma resolução do Conselho de Segurança que exige maior participação das mulheres na prevenção de conflitos e construção da paz. “Há oito anos da adoção da resolução 1.325 do Conselho, se fala muito mais sobre a proteção e promoção dos direitos humanos das mulheres em situação de conflito”, declarou uma coalizão de organizações da sociedade civil, entre elas Human Rights Watch e Anistia Internacional.

Ativistas pelos direitos femininos temem que este ano todas as intenções de tornar realidade a resolução fiquem reduzidas a meras palavras. “Não creio que sintamos que o espírito real da 1.325 realmente chegou ao coração do Conselho de Segurança e de seus esforços. Deveria ser mais que um aniversario”, disse Jéssica Neuwirth, presidente da organização feminista internacional Equality Now. O Conselho de Segurança celebrou o esse aniversário na quarta-feira, com seu oitavo debate aberto sobre “Mulheres, paz e segurança” na sede da Organização das Nações Unidas em Nova York.

Neuwirth alertou que, apesar de a resolução pretender levar mais vozes femininas ao Conselho de Segurança, este órgão raramente atende as mulheres na hora decidir como resolver conflitos. “Há um momento, uma vez por ano, que falam da boca para fora sobre esta resolução, mas não é o que realmente gostaríamos de ver”, disse a ativista à IPS. “O que gostaríamos de ver, de um modo muito formal, é que diante de cada conflito o Conselho de Segurança busque conselho e orientação nas mulheres, e que as incorpore às discussões”, acrescentou.

Vivian Stromberg, diretora-executiva da organização internacional Madre, que promove os direitos femininos há 25 anos, tampouco se mostrou otimista. Mas, acredita que a participação da sociedade civil na discussão – e particularmente das organizações de mulheres, neste caso – foi de vital importância para pressionar os governos que não cumprem suas obrigações. A participação feminina põe sobre a mesa tudo o que afeta as mulheres: questões de gênero, sexualidade, ambiente, paz e segurança, de guerra e economia. É uma vasta quantidade de temas que todo mundo agora enfrenta, com o grau de pobreza que estamos vendo”, disse Stromberg à IPS. “Penso que as mulheres estão na melhor posição para responder a todos esses assuntos, e que relegá-las a questões com às quais têm uma relação biológica é errado”, afirmou.

Segundo o informe da ONU sobre “Mulheres, paz e segurança”, houve avanços nas áreas de ação estabelecidas na resolução: conscientização sobre a importância da igualdade de gênero, transversalidade dessas políticas, desenvolvimento de planos de ação nacional, criação de infra-estruturas e apoio a uma participação maior das mulheres na tomada de decisões, incluindo eleições e governabilidade. Mas, persiste uma brecha entre as políticas e a implementação da resolução, em particular no âmbito nacional. O informe diz que apenas 10 países desenvolvem planos de ação nacional específicos para a implementação da resolução e que outros cinco estão em processo de fazê-lo.

“Temos um longo caminho a percorrer para garantir a participação igualitária das mulheres e seu pleno envolvimento em todos os esforços para manter e promover a paz e a segurança, particularmente em matéria de prevenção e resolução de conflitos, uma representação eqüitativa nas instituições de segurança e nos órgãos de tomada de decisões, bem como garantir que as mulheres estejam protegidas da violência sexual e acabar com a impunidade’, disse ao Conselho de Segurança Rachel Mayanja, assessora especial da ONU para questões de gênero e progresso das mulheres.

Em relação à violência sexual, incluída a exercida por forças de manutenção da paz enviadas pela ONU, a presidente da Madre disse que o fórum mundial deve combater a impunidade, como prometeu. “Se há uma política de tolerância zero, então se supõe que deve haver tolerância zero. Não podem simplesmente falar sobre isto. É preciso avançar, e isso significa que as nações devem ser responsabilizadas’, afirmou Stromberg à IPS. Ela também se mostrou preocupada com a possibilidade de a falta de participação da sociedade civil abrir um grande vazio através do qual os governos possam se esconder.

Mayanja também enfatizou a importância das organizações da sociedade civil, observando que “são ativas no processo de implementação nacional, responsabilizando os governos e injetando novo dinamismo nas sociedades”. Mas, estas organizações não-governamentais não gozam da cooperação do Conselho de Segurança nestas questões críticas, afirmou. “Esperamos que renovem seus compromissos com a implementação da resolução 1.325, e gostaríamos de ver isto como algo além de um acontecimento anual. Deveria ser algo cotidiano. Deveriam incorporar as mulheres. Gostaríamos que isso acontecesse”, disse Neuwirth à IPS. (IPS/Envolverde)


(Envolverde/IPS)

sábado, 1 de novembro de 2008

Campanha convoca homens a lutar pelo fim da violência contra a mulher




O governo brasileiro lançou nesta sexta-feira (31) a campanha Homens Unidos pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. Com isso, o país é o primeiro a aderir a campanha mundial, criada em fevereiro desse ano, pela Organização Nações Unidas (ONU), para mobilizar a população masculina em torno do problema.
No Brasil, uma mulher é espancada a cada 15 segundos. No mundo, uma a cada três mulheres já foi espancada, estuprada, escravizada ou sofre algum tipo de violência. Os dados são da Fundação Perseu Abramo e da Anistia Internacional, respectivamente.

A campanha brasileira consiste na utilização do site www.homenspelofimdaviolencia.com.br para reunir assinaturas de homens que queiram participar da iniciativa. A meta é atingir 90 mil adesões. O endereço eletrônico será distribuído a redes, sindicatos, associações, comunidades e instituições e assinaturas também são coletadas em grandes eventos públicos.

No site, já constam as assinaturas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dos presidentes do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, do Congresso Nacional, Garibaldi Alves, e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, e também do ex-jogador da seleção brasileira de futebol, Raí.

Durante a solenidade de lançamento da campanha, em Brasília, a representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Alana Armitage, destacou que Lula foi o primeiro presidente a responder à chamada da ONU com campanha específica voltada aos homens. "Os homens precisam ajudar para que haja zero tolerância da violência contra as mulheres."

Para a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéia Freire, as situações de violência contra a mulher não podem ser vistas como eventualidades. “A violência contra a mulher não é causada porque um homem perde a cabeça ou chega em casa embriagado, não é briga de casal. É violência sistemática, onde um detém o poder sobre o outro, numa relação desigual", afirmou Nilcéia.

Para a representante do Fundo para o Desenvolvimento das Nações Unidas (UNIFEM), Ana Falú, o combate ao problema passa por uma mudança cultural. "A violência contra as mulheres é um tema público e não privado, que deve ter como premissa a uma mudança na cultura masculina. Só assim acabaremos com este flagelo".

O coordenador do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), Pedro Chequer, foi o nono homem a assinar a lista brasileira. Ele acredita que a mudança cultural não deve também do ponto de vista da mulher e não apenas na perspectiva masculina. “Em vários países há, por parte da mulher, uma perspectiva cultural de aceitar a violência masculina como justa e natural”, explica Chequer.A campanha mundial “Unite to End Violence Against Women”, convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em fevereiro deste ano, dura até 2015.

Bruxas modernas







Sobre vassouras e bruxas...


As bruxas não usam suas vassouras para voar nem seus caldeirões para fazer cozidos de dragão ou sopa de sapo, estes instrumentos são utilizados nos rituais e feitiços. A vassoura doméstica original era feita com um punhado de planta amarrado ao redor de um cabo e está presente na sabedoria folclórica de diversos países e culturas, dos romanos aos chineses.

A constante aparição possuía na verdade um significado fálico. Coisas que são símbolos de sexo são símbolos de vida e coisas boas, por isso muitas vezes a vassoura é utilizada para afastar o mau-olhado ou pessoas indesejadas.

Segundo Charles G. Leland e Albert Barrére ("A Dictionary Of Slang, Jargon and Cant"), uma gíria de antigamente para um pênis artificial era um "cabo de vassoura", e as genitais femininas eram conhecidas vulgarmente como "a vassoura". "Dar uma escovada" era o mesmo que ter relações sexuais. Assim, a vassoura pode ser vista como nada mais nada menos que a própria representação do rito sexual, com o cabo (pênis) ligado ao tufo (vagina). Essa definição provavelmente é muito antiga, especialmente se analisarmos o mito de "bruxas voando em vassouras".

Há uma teoria bastante provável de que as bruxas, para abençoar as colheitas (em um ritual de fertilidade), pulavam sobre vassouras à noite nos campos. Quanto mais alto se pulasse, maior a bênçãos da fertilidade. Além de tudo, era mais divertido.

Uma teoria como essa pode ser ou não verdade, mas o fato é que faz bastante sentido. Algumas pessoas devem ter visto essa cena se repetir e espalhou-se que as bruxas "voavam" em suas vassouras. Faz bastante sentido: todo o rito de fertilidade, o simbolismo sexual da vassoura, os festivais da colheita e as bruxas. É muito mais razoável do que simplesmente dizer que elas voavam mesmo em vassouras.

Com o passar do tempo, os cabos das vassouras passaram a ser feitos com materiais mais duráveis, e a combinação comum era de galhos de bétula para a escova, estaca cinzenta para o cabo e salgueiro de vime para amarrar. Mas isso variava bastante de região para região. Em outros lugares, as madeiras tradionais são os ramos de carvalho para os galhos, nogueira para o cabo e bétula para amarrar.
Todas essas plantas e árvores são cheias de significados mágicos e sagrados, aparecendo inclusive no alfabeto das árvores druidas (Ogham).

Fazendo a sua vassoura mágica

Imbolc é um período de purificação e é a época ideal para confeccionarmos uma vassoura. Ela servirá para varrermos tanto fisicamente como energeticamente as energias do local ritual.

Para o cabo use o salgueiro - "a árvore sagrada dos celtas" - que é, tradicionalmente, a madeira usada para se fazer a vassoura. No entanto, qualquer madeira que lhe tenha um significado especial para vocêpode ser usada.

Além do cabo da vassoura, você precisará de:
- ramos e folhagens (pode ser também de salgueiro, ou de algumas ervas como arruda);
- pincel e tintas coloridas;
- fitas coloridas;

Pinte o cabo da vassoura da maneira que quiser. Seja criativo(a); utilize cores e símbolos da maneira que achar melhor para você. Você pode pintar o cabo nas cores branca, preta e vermelha, que são as cores que representam as três faces da Deusa. Deixe um dia secando.

Faça uma trança com as fitas que você escolheu. No dia seguinte, amarre as folhas ou folhagens em uma das pontas do cabo e prenda-as com as cordas trançadas.

Depois que a vassoura estiver pronta, você deve consagrá-la.
Para isso, acenda um incenso de sua peferência e passe toda a vassoura pela fumaça, dizendo:

Eu te consagro pelo elemento ar.

Em seguida, passe a vassoura pelas chamas de uma vela vermelha e diga:
Eu te consagro pelo elemento fogo.

Respingue um pouco de água na vassoura e diga:
Eu te consagro pelo elemento água.

Toque o cabo da vassoura em um pires de sal, dizendo:
Eu te consagro pelo elemento terra.

Sua vassoura está consagrada e pronta para ser usada. Para limpar os lugares apenas energeticamente, varra a casa sem encostar a vassoura no chão, apenas simbolicamente, enquanto mentaliza todas as energias ruins sendo varridas de sua vida. Você também pode repetir este procedimento dentro do círculo ritual.

A vassoura pode ser usada para proteger a sua casa, bastando colocá-la atrás da porta principal.