sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

16 DIAS DE ATIVISMO

Os movimentos feminista e de mulheres promovem através da AGENDE a Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Este ano a Campanha tem como slogan “Uma vida sem violência é um direito das mulheres. Comprometa-se. Tome uma atitude. Exija seus direitos”, e está focada nas chamadas violências “sutis”, ou seja, atos de violência moral, psicológica e de controle econômico e de sociabilidade, entre outros, considerados “normais” ou “naturais” por estarem arraigados na cultura e porque, muitas vezes, não são direta ou claramente percebidos como violência pela sociedade e pelas próprias mulheres vitimadas.

Por todo o país, organizações da sociedade civil e representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário promovem ações de conscientização e disseminação de informações voltadas à busca de soluções para a situação de violência a que estão submetidas as mulheres no Brasil e no mundo.

Aqui em Cruz das Almas a Campanha já teve, em anos anteriores, destaque nas ações de grupos feministas e mesmo do poder público. No entanto, em 2009 estas entidades não prepararam nenhuma pauta ou atividade que pudesse trazer para a população um debate tão significativo.

Confesso aqui e agora minha co-responsabilidade nesse quesito, pois as atribuições profissionais vem, atualmente, desviando minha atenção, e meu tempo, das açoes mais especificas do movimento.

Em momentos anteriores me dediquei de forma muito especial à defesa dos direitos das mulheres, seja enquanto membro-fundadora do Coletivo de Mulheres em Luta Jacinta Passos, no Setorial de Mulheres do PT ou na condição de gestora do então Departamento de Politicas para as Mulheres da Prefeitura Municipal de Cruz das Almas, função que ocupei entre 2006 e 2008.

Foi um período muita aprendizagem, que serviu para reforçar e amadurecer minhas convicções politicas e ideológicas. Convivi com pessoas (mulheres) de diversas partes do país, nos diversos segmentos sociais e pode constatar que a opressão de genero afeta a todas, independente de classe social, idade ou local de moradia. É claro que em alguns ambientes ela é atenuada -ou disfarçada -, mas está lá, presente, latente ou não, pronta para ser enfrentada, desmascarada.

E essa opressão de manifesta de forma mais perversa nas práticas de violencia moral e psicológica , que perpassam subrepiticiamente as relações entre homens e mulheres e às quais nos acostumamos a ver/sentir sem reclamar ou nos chocar. Porque, se a violencia fisica já não encontra mais o amparo que antes a sociedade lhe dava ('lavar a honra com sangue', por exemplo, era uma máxima defendida pela legislação brasileira até poucos anos), a chamada violencia sutil, para a qual a Campanha dos 16 dias chama a nossa atenção, é simbólica, fere-nos de forma silenciosa, transformando em frangalhos a autoestima de milhares de mulheres.

Leia abaixo texto retirado do site da campanha. Lá podem ser encontrados outros textos, links para sites de organizações feministas do mundo inteiro e os materiais de divulgação da Campanha nos ultimos anos. Vale à pena uma visita e mais ainda adicionar aos seus 'favoritos': http://www.campanha16dias.org.br

A violência contra as mulheres de forma mais ampla: uma questão de cultura

Embora a discussão, os estudos e a legislação sobre violência contra as mulheres atualmente englobem as várias formas de manifestação (violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral), o grande foco encontra-se nos atos violentos visíveis, que deixam marcas físicas nas vítimas e praticamente não consideram a violência simbólica como prejuízo real às mulheres em situação de violência.

Faz-se necessário, portanto, que o enfrentamento à violência contra as mulheres seja conjugado a uma discussão ampla, capaz de desvendar e desconstruir as amarras da cultura milenar que estruturou e consolidou as desigualdades de gênero. Cultura aqui compreendida como um sistema simbólico formado por linguagem, arte, moral, direito, costumes, crenças religiosas, etc, que garante ou reproduz a integração social. São esses sistemas simbólicos que conferem sentido ao social e possibilitam consensos sobre a ordem estabelecida.

Vários elementos simbólicos funcionam como mecanismos eficientes de reprodução do patriarcado, tanto na esfera pública quanto na privada. A noção de “violência simbólica” busca traduzir a infinidade de discursos sobre o feminino (mulher), e suas relações com o masculino (homem).

Esses enunciados, de forma rotineira e quase imperceptível, orientam ações, difundem modelos referenciais, valores e julgamentos que, vinculados à prática social, dão sentido às construções dos sujeitos e reelaboram e reafirmam identidades.

A isso, Segato (2003) define como “violência moral”: “Todo aquello que envuelve agresión emocional, aunque no sea ni consciente ni deliberada. Entran aquí la ridicularización, la coacción moral, la sospecha, la intimidación, la condenación de la sexualidad, la desvalorización cotidiana de la mujer como persona, de su personalidad y sus trazos psicológicos, de su cuerpo, de sus capacidades intelectuales, de su trabajo, de su valor moral” (Rita Laura Segato, Las estructuras elementares de la violencia, Buenos Aires, Universidad de Quilmes, 2003, p.115).

Tal como observa a autora, esse tipo de violência pode ocorrer sem nenhuma agressão verbal, manifestando-se com gestos, atitudes, olhares. É uma violência naturalizada, porque está presente nos mesmos processos de socialização que ensinam aos sujeitos como se comportarem em sociedade.

Dizer que pode ocorrer sem nenhuma agressão (verbal ou física) não tira o prejuízo que causa a toda sociedade que, se estruturada num sistema de status que inferioriza um dos sexos, acaba por legitimar outros tipos de violência, como a sexual. Pois o corpo da mulher, por muito tempo visto como domínio do homem, gerou uma cultura em que o uso e abuso desse corpo, quando realizado pelo “dono” (pai, marido, parente), é considerado legítimo, mesmo que tal situação não esteja mais prevista na legislação vigente.

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