sábado, 31 de janeiro de 2009

Palmas para Pirro, porra!

Resmungava eu de mim para mim na madrugada - "vitória de Pirro, foi isso sacanas, uma vitória de pirro e nada mais. Ou pensam vocês que a conta não vem??". Daí para acordar, curiosa, e buscar na 'historicidade das coisas' quem foi Pirro de fato deu-se só um pulo. Ei-lo:

Pirro (318 a.C.-272 a.C.), rei de Épiro, antiga região da Grécia (atual Albânia) à beira do mar Jônio, tornou-se famoso por ter sido um dos principais opositores aos romanos.
Bisneto do grande guerreiro grego Aquiles e primo materno de Alexandre Magno, rei macedônio, teve sua vida marcada não só por grandes feitos militares, mas também por dificuldades e atribulações diversas, inclusive quando de sua morte: segundo conta a lenda, em 272 a.C. ele decidiu intervir numa disputa cívica em Argos, e para isso entrou com o seu exército na cidade, às escondidas, mas acabou envolvido em confusa batalha travada nas ruas estreitas da localidade. Durante a luta, uma velha que observava tudo do alto de um telhado, atirou uma telha em Pirro, que caiu atordoado, disso se aproveitando um soldado inimigo para matá-lo.
Outra versão, porém, diz que ele foi envenenado por um servo. Já a história registra a vitória do rei que, indo ao campo de batalha para vislumbrar o cenário da derrota do inimigo, lá encontrou seu exército também tão destroçado, que lamentou amargamente o resultado do confronto. Daí o termo.
A trajetória militar do rei de Épiro em sua obstinada intenção de construir um império na Itália deixou como herança a expressão vitória de Pirro, usada para simbolizar tudo aquilo que se consegue a um custo bem mais alto que as vantagens obtidas. http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br)
Pense: será que é preciso vencer, vencer e vencer sempre? Será que a perspectiva da vitória é a única que podemos viabilizar? Será que é humano vencer?
Há mais de dois mil anos e um bom tempo depois (lembram-se do faroeste?), a vitória era quase sempre sinônimo de sobrevivência concreta. Matar ou morrer. Com o homem do século XX parece que isto não aconteceu porque ele foi civilizado e distanciou-se pouco a pouco da barbárie de seus ancestrais... Será mesmo?
A noção de um processo civilizatório ou mesmo o referencial de ser civilizado como um bom caminho social, foi um produto da modernidade. Antes, ninguém se preocupava com isto, ou seja, pouco importava ser civilizado para um imperador romano ou um servo medieval. Eles até comiam com as mãos sem constrangimento, por exemplo.
O ser civilizado representou para o individuo moderno, entre outras coisas, se diferenciar das atrocidades cometidas pela humanidade no passado, com as quais o 'perfil' moderno não queria se assemelhar. E foi assim que passamos pelo século XX.
De fato, a civilização ocidental embarcou no século XXI sem comer com as mãos há algum tempo. Mas, por uma operação tão sofisticada quanto separar minuciosa e socialmente os espinhos de um peixe com um talher, esta sociedade aprimorou os detalhes da barbárie, de tal forma que eles passassem indeléveis pelo cotidiano.
A perspectiva de vencer sempre diante, ora de uma competição, ora de uma negociação, ora de uma simples e caseira relação interpessoal, foi parte deste mecanismo sofisticado da barbárie politicamente correta que passou olimpicamente por todo o século XX. Era preciso vencer na guerra, vencer na empresa, vencer na política, ...
Acontece que vencer, vencer e vencer é tão bárbaro quanto matar, matar e matar, porque ambos partem do mesmo princípio: o princípio da exclusão. Quando eu mato, excluo o problema, o conflito ou o desafio. Elimino, enfim, o que me incomoda. Quando venço, faço o mesmo. A diferença é que com o primeiro sou penalizada socialmente e com o segundo sou calorosamente aplaudida pela platéia...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Só pra deixar claro que voltei a postar por aqui, deixo mais um escrito, este agora da minha poeta preferida.



Tenho arrumado livros.
Tiro de uma prateleira sem ordem e coloco em outra
com ordem. Ficam espaços vazios.
Hora em hora.
Não tenho te dito nada.
Ligo para os outros.
O que poderia dizer é perigoso: certeza (asim como
eu disse: daqui dez anos estarei de volta) de que nos
reencontramos, cedo ou tarde.
Mas não sei mais quando

Cedo ou tarde reencontro - o ponto
de partida


Ana Cristina Cesar, Inéditos e Dispersos

Barak Obama. Considerações sobre os meus, os seus, os nossos...

Confesso que Barak Obama tem me surpreendido.
Na verdade, desde o início da corrida pela vaga na chapa Democrata às eleições do ano passado nos EUA, com Obama e Hillary Clinton disputando 'cabeça a cabeça' fiquei a pensar no quanto seriam emblematicas as duas candidaturas e em qual o seria mais - a do primeiro negro ou a primeira mulher.
Como acredito que não basta ser mulher, dei prá torcer por Obama - mas me mantendo com um pé atras - afinal o que é bom para os EUA, definitivamente, não é bom para o Brasil...
Eleito o cara, as comemorações pipocam em todos os cantos, como se a festa fosse na casa de cada um, da rica Europa à África avó do novo número um do planeta.
Mas eu não me deixava , como não me deixo ainda - esquecer que ele é um deles, não um de nós - ou alguém tem a ilusão de que se assim não fosse ele teria conseguido??
Só que, mesmo sendo um deles - ainda assim, Obama teve a coragem de manter-se fiel a quem o apoiou na campanha e ajudou a elegê-lo: as minorias politicas - gays e lésbicas, negros e negras, pobres, moradores de rua, mulheres... Tão diferente dos nossos, não é mesmo?
Emocionada, li a primeira notícia do governo Obama sobre as mulheres, no dia 22 de janeiro, poucos dias depois da posse, data em que a decisão da Suprema Corte que garante o direito ao aborto nos Estados Unidos fazia 36 anos: "o aborto deve ser permitido à mulher, por qualquer razão, até o momento em que o feto se transforme em 'viável', ou seja, quando seja potencialmente capaz de viver fora do útero da mãe sem ajuda artificial". Na nota o presidente Obama disse continuar “determinado a proteger a liberdade das mulheres de escolher entre ter um filho, ou não" e que "a data nos lembra que essa decisão não apenas protegeu a saúde das mulheres e a liberdade reprodutiva, mas simboliza um princípio maior: que o governo não tem de se intrometer nos assuntos familiares mais íntimos".
E minha surpresa não parou aí. A primeira lei sancionada por ele diz respeito, também, aos direitos das mulheres, instituindo a igualdade salarial entre homens e mulheres, um passo importante no combate à discriminação de gênero. Nas palavras do próprio - "ao sancionar esta lei hoje, eu pretendo dar uma mensagem clara, que não existem cidadãos de segunda categoria no trabalho" ** .
Aí vou, volto e chego à idéia manifesta acima - de deles e nossos, eles e nós, como se o fato de sermos de uma mesma categoria, partido politico ou posição ideológica pública nos tornasse a todos iguais ou diferentes, e a uns ‘melhores’ que os outros. Digo isso com a experiencia de quem tem vivido e lutado entre ditos iguais nas idéias, mas que na prática - quanta diferença... Os nossos, nos quais eu sempre acreditei, defendi e com quem lutei lado a lado, mostram-se hoje tão inversos e distantes que me fazem quase duvidar das minhas idéias de solidariedade, lealdade e justiça.
Por isso Barak Obama hoje se me torna um ícone - de lealdade, de coerência entre discurso e prática, texto e ação. Pode ser que logo ele volte a ser pra mim o outro, o do lado de lá, afinal são tantas as questões pendentes entre os súditos do mundo inteiro e o império americano, que não será dificil nos estranharmos já, já. Mas jamais vou esquecer este momento.

** Se existem em outro lugar ou posição é o que veremos nos próximos quatro anos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

NOTURNO

Chove. Lá fora os lampiões escuros
Semelham monjas a morrer... Os ventos,
Desencadeados, vão bater, violentos,
De encontro às torres e de encontro aos muros.

Saio de casa. Os passos mal seguros
Trêmulo movo, mas meus movimentos
Susto, diante do vulto dos conventos,
Negro, ameaçando os séculos futuros!

De São Francisco no plangente bronze
Em badaladas compassadas onze
Horas soaram... Surge agora a Lua.

E eu sonho erguer-me aos páramos etéreos
Enquanto a chuva cai nos cemitérios
E o vento apaga os lampiões da rua!

Augusto dos Anjos
Não posto faz tempo. Não que andasse sem tempo para escrever, pra isso sempre me sobra algum - mas sem disposição para sentar ao teclado e dizer nele tantas coisas que passam por mim. Os ultimos tempos tem sido de muita turbulencia e mudança e as mais significativas acabaram me conduzindo a uma pessoa que não gosto de ser nem de partilhar com ninguem. Assim, peço desculpas aos leitores deste blog para mais uma vez reservar o teclado apenas à paciencia spider